segunda-feira, 5 de julho de 2010

SATANÁS, O AMIGO DOS DEUSES


“Um argumento a favor do diabo: É preciso recordar que nós ouvimos só uma versão da história. Deus escreveu todos os livros” (Samuel Butler, 1835-1902, escritor inglês).

O entardecer estava chegando àquela região da América Latina. Lá em cima, na atmosfera, o Satanás e um arcanjo travavam uma luta violenta com suas espadas de fogo. De repente o satã é ferido com gravidade e começa a perder altura. Caiu numa área de macegas e arbustos não muito distante de uma igrejinha isolada. Ele estava desatinado e se contorcendo de dor. Mesmo assim. Conseguiu ver o padre se aproximando pela trilha, vindo do vilarejo. Já estava bem escuro; o pobre diabo gritou:

– Padre! Socorro!!

O padre, com medo, pensando tratar-se de um bandido, apressou os passos.

– Padre! – continuou o “coisa ruim” – sou eu, seu velho amigo e conhecido, ajude-se!

O padre, desconfiado, foi se aproximando com cautela. Quando se deparou com o demônio, ficou espantado.

– Maldito! – exclamou o padre – você é o maior inimigo da Igreja, como pôde usar de truque tão baixo?

– Padre, deixe de ser ingênuo, a Igreja não poderá jamais viver sem mim!

– O que está dizendo?! – retrucou o padre – você está completamente louco!

Não, padre, – discordou o “príncipe das trevas” – apesar de ferido, eu nunca estive tão lúcido. Escute padre! Eu preciso da sua ajuda, se eu morrer sua Igreja morrerá também. Se eu morrer, ninguém mais precisará de vocês. Pense bem, meu amigo, a sua Igreja sempre apavorou o mundo com o meu nome, e é por medo de mim que o colono lhes dá parte de sua colheita; os fiéis lhes dão o dízimo por causa do pavor que eles têm de mim!

– E ainda tem mais, padre – continuou Lúcifer – aqueles padres que acreditam de fato na Igreja e em Deus e que amam o próximo jamais saem de um fim de mundo, como este aqui. Eles acabam suas vidas com a batina toda remendada e desprestigiados pelo Vaticano. Somente aquele padre explorador, ambicioso e inescrupuloso chega ao cardinalato. Por isso sua Igreja é tão rica, tão poderosa, tão influente... Assim Lúcifer continuou, até que alguns minutos mais tarde o padre foi visto entrando na igrejinha, com alguém nas costas, como se estivesse carregando uma cruz muito pesada.

JESUS METAMORF-KID


Maria da Conceição da Luz havia sido declarada culpada pela Justiça e condenada a uma pena de seis meses na penitenciária Estadual pelo roubo de uma mamadeira num supermercado da cidade.

Durante o cumprimento da pena ela foi estuprada pelo carcereiro José de Oliveira. Quando Maria deu-se conta da gravidez pensou em provocar um aborto ou até mesmo cometer o suicídio. Com o passar dos dias porém sua religiosidade foi neutralizando sua revolta deixando-a por fim totalmente resignada; vez por outra ela surpreendia a si mesma acariciando sua barriga.

Quando Maria deu a luz o menino recebeu o mesmo nome do seu primeiro filho que morrera de subnutrição; Jesus Emanuel era o nome do bebê.

Oito meses se passaram. Maria continua prisioneira e sem advogado para defender seus direitos. Cada dia que passa, Maria fica mais aflita e desesperada. Ela lembra as últimas torturas. Durante um feriado religioso havia acontecido a fuga de um grupo de prisioneiras. Sua melhor amiga e companheira de cela também havia escapado e a polícia não conseguiu mais encontrá-la. Suspeitaram que Maria soubesse do paradeiro da amiga e por ordem do diretor ela foi submetida a muitos suplícios.

Eriberta, responsável pelo pavilhão C, mandou que amarrassem a prisioneira numa cadeira de ferro colocada em frente a uma tela de cinema onde a carrasca rodou cenas de um filme que fez com que a pobre mãe de Jesus desmaiasse por três vezes. As cenas mostradas iam desde penetração de lascas de bambu debaixo das unhas de prisioneiros até dissecação de cadáveres.

Depois das torturas psicológicas vieram os maus tratos físicos. Choques elétricos pelo corpo, espancamentos, etc. Certa vez, Maria foi acordada no meio da noite e conduzida aos porões de tortura. Foi amarrada pelos pés e erguida através de uma roldana. Debaixo havia uma grande cuba de madeira cheia de fezes bichadas na qual foi mergulhada até a cintura.

O pequeno Jesus resistiu milagrosamente dentro do útero de sua mãe Maria. A pele dele ao longo da gestação transformou-se numa espécie de couraça escamosa, muito forte e resistente, diferente de toda e qualquer espécie animal conhecida. Era sua defesa contra aquele mundo insano e animalesco com o qual em breve haveria de se defrontar. De fato, Jesus era um bebê extraordinário, ele conseguia tudo ver e saber através dos sentidos de sua mãe.

O útero de Maria tornou-se espesso, para protegê-la de seu amado rebento que, por sua vez, também ficaria protegido da corja de canalhas que habitava aquele covil nefasto. As mãozinhas do menino Jesus se transformaram em poderosas garras, pontiagudas e afiadas como navalhas.

Maria já não aguentava mais tanto sofrimento e decidiu acabar com tudo, de uma vez por todas. Até então ela havia resistido em lazê-lo por causa do amor que passou a nutrir por seu bebê. Apesar das circunstâncias em que ele foi gerado ela o amou muito, mais do que tudo entre o céu e a Terra. Mas agora, até mesmo em sua decisão de acabar com a própria vida, ela teve para com ele um gesto de amor e renúncia.

Maria se deu conta de que a sanidade física e mental de uma criança depende de uma gravidez tranqüila e serena, sabia portanto que seu bebê já estava há muito tempo condenado. A razão passou então a falar mais alto que a paixão por Jesus. Ela decidiu por bem dar a seu filho e a ela própria o descanso eterno.

Maria planejou para si uma morte rápida, mas também dramática, o mais chocante possível para chamar a atenção de todo o país, com o propósito de tornar menos selvagem aquele sistema carcerário. Sua morte seria também um ato de amor para com todos os demais prisioneiros.

Para cumprir seu plano Maria conseguiu uma função de ajudante de cozinha no pavilhão C. No terceiro dia ela reuniu toda a coragem que encontrou dentro de si para sobrepor uma outra força contrária e misteriosa que também vinha de dentro dela. A mãe de Jesus escolheu uma faca bem longa, pontiaguda e afiada. Caminhando como se fosse um autômato parou em frente a um grande calendário, ela já havia perdido a noção do tempo mas notou que a última cruz com tinta vermelha estava sobre o “25 de dezembro”. Coincidentemente, naquela data os cientistas haviam anunciado a descoberta de uma supernova, a mais brilhante até então avistada nos céus.

Maria introduziu o cabo da faca num buraco estreito na parede, bem ao lado do calendário. De repente seus nervos foram estremecidos pelos gritos histéricos de Eriberta, a toda poderosa do pavilhão C; a carrasca com a voz estridente gritava que Maria estava Iá para trabalhar e não para vadiar. De frente para a faca Maria recuou um pouco, girou o corpo dando meia volta, respirou fundo e foi com toda força para trás. A faca, penetrando pelo dorso, atravessa o coração de Maria tazendo-a estremecer em agonia.

A cozinha transforma-se em olhos arregalados, histeria e confusão. A primeira turma de prisioneiros no refeitório ao lado aproveita para amotinar-se e começa a quebrar tudo que encontra pela frente. Algumas prisioneiras se unem e conseguem começar um incêndio.

Já está anoitecendo, o fogo se alastra deixando o lugar na penumbra e iluminado aqui e ali pelo fogo que avança sem medo. Toda aquela confusão marca o despertar do menino Jesus, e sua hora de nascer, sua missão começará a ser cumprida. Ele não deve esperar mais tempo dentro do útero de sua mãe morta, precisa sair antes que o corpo dela comece a enrijecer.

Suas garras potentes e afiadas serão os instrumentos cirúrgicos de sua própria cesariana. Coisa alguma poderá detê-lo, Jesus se sente forte, poderoso, seu ódio e sentimento de vingança lhe dá ainda mais energia e, por certo, em sua cruzada, não veio trazer paz e sim espada.

Jesus rasga o ventre frio e pálido do cadáver de sua mãe que agora cai ao solo, agitado pelos movimentos vibrantes de seu rebento. Até então o corpo de Maria tinha estado suspenso, sustentado pela faca.

Com o crânio escamoso e forte para fora do ventre de sua mãe Jesus contempla o ambiente cada vez mais conturbado do pavilhão C. Ele sabe como proceder e contra quem deverá agir para vingar sua mãe. Os contrastes entre a escuridão e as labaredas oferece a ele excelente visibilidade e a vantagem estratégica seria sem dúvida daquela criaturinha cinzenta, forte, ágil e misteriosa.

Os dentes do recém-nascido cortam o cordão umbilical num só golpe, como se fossem as presas de uma fera carnívora; com este gesto ele corta o último elo físico entre ele e sua amada e infortunada mãe Maria.

Enquanto isso, Eriberta tenta de todas as maneiras debelar o sinistro... pega pelo braço uma funcionária, que assustada tenta fugir do local, e a esbofeteia. Mais adiante, já pensando maquiavelicamente em receber uma medalha ou condecoração de seus superiores, ela avança sobre um guarda e arranca-lhe da mão um balde cheio de água que joga em cima das chamas; observa a fumaça que dali saiu e dá um sorriso de satisfação, mas antes mesmo de seus lábios voltarem ao normal seu pescoço e dilacerado pelas garras de uma pequena criatura que de tão rápida e violenta se confunde com as sombras inquietas que dançam na noite.

Eriberta não teve tempo de esboçar nem mesmo um gemido, sua cabeça foi quase que totalmente decepada, ficando ligada ao resto do corpo por uns poucos filamentos nervosos.

Nesse meio tempo, José, o carcereiro estuprador, pai de Jesus, estava no alojamento dos funcionários se preparando para fugir, na noite anterior ele havia sonhado com um anjo que lhe avisou que viriam três autoridades carcerárias da capital para puni-lo por todos os estupros que ele havia cometido nas prisioneiras daquela instituição penal.

José ouviu uma gritaria Iá fora e correu até a janela para ver o que estava acontecendo. Viu Iá embaixo funcionários, guardas e prisioneiras correndo de um lado para o outro e em todas as direções. Notou que haviam deixado aberta a tampa do grande caldeirão que continuava fervendo as roupas dos prisioneiros. José voltou às pressas para completar sua mochila; corre no armário para pegar mais alguns objetos de uso pessoal, leva a mão ao trinco, abre a porta e extravasa um tenebroso guincho de dor; seu rosto é dilacerado pelas garras afiadas de seu filho Jesus.

Desatinado e delirando em agonia o estuprador tenta fugir, corre, e logo estatela-se de bruços ao chão. Agonizando, José sente suas costas sendo rasgadas como que por um conjunto de foices aguçadas, ele berra e rola pelo chão contorcendo-se como uma serpente lançada sobre um braseiro. Num ímpeto instintivo de sobrevivência ele reúne suas últimas forças e consegue ficar de pé, tenta correr, mais alguns passos e ele é lançado pela janela num vôo direto e derradeiro, de ponta-cabeça para dentro do grande caldeirão fervente. Antes de retirar-se do local Jesus contempla lá de cima a cena sinistra fixando o olhar por alguns instante naquela criatura abominável que apesar de tudo foi seu pai e que agora já sem vida é cozido em seu próprio sangue.

Um batalhão inteiro da tropa de choque já havia partido da capital, distante 50 km, a caminho do presídio, com a missão de controlar a qualquer custo os motins que já haviam se alastrado por todos os pavilhões. Jesus já tinha exterminado todos os algozes de sua amada mãe Maria, não tinha mais nada a fazer naquele covil de desesperados.

Jesus então retirou-se pelas galerias subterrâneas do presídio indo em direção a capital, chegando Iá, e tendo estado em jejum, ele invade um supermercado e sacia sua fome e sua sede. Dali tendo Jesus partido deslocou-se até a um bueiro no meio da avenida, afastou a pesada tampa redonda de ferro embrenhando-se, através da rede de esgoto, em galerias de minas abandonadas.

Reuniam-se naquele momento as autoridades e conselheiros da capital para tomar as devidas providências contra aquele verdadeiro terremoto que estava fazendo tremer de medo todos os habitantes daquela terra de bárbaros e corruptos. Jesus por certo haveria de sobreviver pois tinha as características de um mutante, e não é com raridade que os mutantes hibernam, sofram transformações e se desenvolvam. Mas no que poderia se transformar Jesus, o amado filho de Maria? Num deus? Líder revolucionário? Cientista?

MUITO ALÉM DO PASSADO


Muitos cientistas e intelectuais do passado haviam sido queimados vivos, pelos religiosos, tudo porque a ciência revelava verdades insofismáveis e as jogava na cara imunda e perversa do fanatismo religioso. Eles, por exemplo, se recusavam a aceitar que a Terra girava em torno do Sol, nem mesmo aceitavam que o Planeta tivesse a forma esférica. Para os fanáticos da igreja a Terra era o centro do universo, porque um certo deus havia criado o homem à sua imagem e semelhança.
Desde a primeira perseguição dos fanáticos religiosos contra a lógica, a coerência e a razão, cientistas e fanáticos tornaram-se inimigos (i) mortais. Com o passar dos séculos essa inimizade foi crescendo cada vez mais até que chegaria o dia em que eles estariam prontos para o confronto final, não havia mais lugar no Sistema Solar para a ciência e para a religião, uma das duas teria que desaparecer para sempre da face do universo.
Estávamos no ano 690 d.E. (depois de Einstein); na Terra não havia mais nações, o próprio planeta era considerado uma nação e vice-versa havia um só idioma oficial e o parlamento da Organização dos Planetas Unidos do Sistema Solar (OPUSS) dirigia o destino de todos os seres desse sistema da Via Láctea. O poder no parlamento da OPUSS no passado havia pertencido a duas doutrinas distintas e adversas o Partido da Ciência e o Partido de Deus. Após muitas guerras civis entre os representantes e alinhados dos dois poderes finalmente os cientistas ficaram absolutos no poder, em todo o sistema solar, ficando o parlamento constituído de um só partido, o da Ciência.
A partir daí, a humanidade passou a trilhar um estágio de progresso e prosperidade jamais conseguido na história do Homo Sapiens Sapiens. Muitas invenções, descobertas e realizações que os cientistas e ficcionistas do passado haviam previsto tornaram-se realidade, bem como muitas outras que não haviam sido previstas. As máquinas, os andróides, os humanóides haviam de fato substituído os humanos em todas as atividades monótonas, repetitivas e difíceis.
A fome, a pobreza, a velhice, as doenças haviam sido extintas, sendo que cérebros de inteligência e discernimento artificiais, criados à imagem e semelhança do homem, já haviam catalogado milhares de doenças e anomalias orgânicas com possibilidades de acontecimento futuro. Tudo com seus respectivos sintomas pré-estabelecidos e antídotos já produzidos e estocados.
A traumatologia médica oferecia várias técnicas cirúrgicas e não-cirúrgicas de cura, entre elas a regeneração e reconstituição acelerativas, e implantes de órgãos clonados ou artificiais. A única barreira na Era de Einstein, que a traumatologia ainda enfrentava, era a reconstituição da mente e da memória de um cérebro destroçado em acidentes. As pesquisas, porém, estavam bastante avançadas.
Um marco importante da Ciência para melhorar as condições alimentares dos cidadãos foi a criação da máquina Solo Alimentor 238, o primeiro de uma geração de superartefatos que passou a retirar as refeições de uma matéria-prima que nada mais era que o próprio solo. Com alguns punhados de terra poder-se-ia obter deliciosas bistecas, saladas de legumes ou qualquer outro cardápio, dependendo tão somente da programação de processamento da máquina, a Solo Alimentor 238.
Antes de os cientistas assumirem o poder e o destino no planeta Terra este chegou a ter uma população de 20 bilhões de pessoas. A degradação ecológica foi tão intensa que a vida no planeta correu sérios riscos de deixar de existir. As florestas cada vez mais intensamente davam lugar às monoculturas para saciar as necessidades alimentares da humanidade.
Planejamento familiar, paternidade/maternidade responsáveis e exames laboratoriais pré-nupciais, tornaram-se objeto de leis draconianas, cuja violação deixava o transgressor sujeito à pena de morte. Para que um bebê pudesse nascer teria que esperar uma vaga, ou seja, alguém teria que morrer.
As vantagens do processo de produção do Solo Alimentor 238 eram muitas se comparadas com o sistema tradicional já que não havia necessidade de substituir florestas por culturas agrícolas, pelo contrário, houve uma inversão do processo. Grande parte das áreas usadas para o plantio de monoculturas foi abandonada pelo homem e reflorestada naturalmente pelos animais. Há muitos séculos, no planeta Terra, não via tanta natureza, tanta fauna, tanta flora, tantas árvores frutíferas. Todo lixo produzido era reduzido a pó, classificado e reciclado por máquinas desintegradoras de matéria.
O Solo Alimentor 238 desencadeou também fatores econômicos mais compensadores com a diminuição de gastos de energia e tempo, tanto na preparação dos alimentos quanto na neutralização dos fatores perecíveis dos produtos agrícolas. As viagens interplanetárias também passaram a ser realizadas com mais propriedade, já que algumas toneladas de terra abastecia uma grande tripulação, durante muito tempo.
Os avanços científicos no campo da engenharia genética e da biotecnologia possibilitaram aos seres humanos viver até a idade de 490 anos, na observação experimental, teoricamente os cientistas ainda não haviam fixado limites exatos. No entanto, a legislação da OPUSS só permitia que uma pessoa vivesse até aos 300 anos de idade.
Na Terra, os casais costumavam esperar um bom tempo por uma vaga para terem seus bebês. Deveria haver um equilíbrio rígido entre as mortes e os nascimentos, para que o equilíbrio ecológico do planeta não fosse prejudicado. Não foi sem motivos que os cientistas guardaram segredo absoluto sobre o não-envelhecimento, por tanto tempo, até que se apresentassem as condições mínimas para que o homem usufruísse do direito de viver por muito mais tempo.
A terra do início do século VII, depois de Einstein, era uma espécie de paraíso ecológico, o primeiro mundo onde todos os povos dos outros planetas colonizados queriam viver. Mas na Terra nem tudo eram "flores". Aqueles que secretamente conseguiam ser alterados para viver mais de 300 anos estavam sujeitos à pena de morte, já que um aumento na longevidade humana além de 300 anos faria com que não mais pudesse haver nascimento de bebês, para evitar uma nova explosão demográfica, pondo em risco a ecologia do planeta.
Com o passar do tempo, a velha insatisfação humana e sua sede de viver foi se tornando incontrolável. Por outro lado, a velha oposição religiosa, mesmo na ilegalidade, continuou se organizando e se fortalecendo. Os problemas que os cientistas governantes passaram a enfrentar eram tantos que a História foi conduzida a um novo e grande impasse. A gota d’água transbordante foi a chamada "Cisma de Matusalém": De um lado os materialistas ateístas pressionando o parlamento para manter a lei que permitia aos cidadãos viverem até 300 anos de idade. De outro lado, os fanáticos religiosos exigindo uma volta à cronologia natural da vida, de acordo com os "desígnios de Deus”. Uma facção cristã queria, inclusive, que o tempo voltasse a ser registrado a partir do nome de Cristo; o calendário oficial da OPUSS tinha por base o primeiro século após o nascimento do profeta científico Albert Einstein.
A Terra era considerada como uma espécie de santuário para aqueles que haviam nascido nas colônias planetárias. Ela representava o berço da espécie humana e todos queriam para si o privilégio de ali viver ou visitar sem a necessidade de burocracia ou espera.
O templo erguido no lugar onde o profeta Einstein nasceu era um lugar sagrado para os científicos de todos os planetas colonizados pelo homem. Porém, as visitas aos lugares sagrados dos religiosos haviam sido proibidas. Mas eis que já há muitas décadas, as peregrinações a estes lugares proibidos pelos legisladores da OPUSS estavam sendo realizadas. As cismas, os antagonismos e os desentendimentos conduziram a humanidade à maior guerra de toda a sua história.
Em 692, depois de Einstein, o conflito já havia se espalhado por todo o Sistema Solar. Centenas de milhares de naves de guerra da frota interplanetária entraram em combate, as 250 mil ogivas atômicas de alta densidade de matéria, as chamadas "pequenas anãs-brancas", que também eram destinadas a proteger os planetas contra meteoros e cometas, também estavam na iminência de serem usadas.
Em meio a toda essa confusão e destruição, que começava a evidenciar o aniquilamento total do sistema solar, estava o pensamento do capitão Syrus Krato, comandante da super belocosmonave "Johannes Kepler", da frota interplanetária das forças armadas científicas. Ele rememorava sua fuga, a perseguição por duas naves inimigas e a destruição de uma delas.
Krato, bem como toda a tripulação, decidiu navegar para bem longe do sistema solar em guerra. Ele estava feliz por ter deixado para trás todo aquele terror e destruição. Após alguns anos luz distantes do Sistema Solar, Syrus Krato e toda tripulação da nave “Kepler” ficaram eufóricos com a magnífica descoberta de um planeta que até então não constava em nenhum mapa intergaláctico; esse planeta desconhecido talvez lhes pudesse servir como novo lar. O planeta estava sendo analisado e foi por eles denominado “Nova Terra”.
Umas das espécies animais nativas daquele novo planeta era bem parecida com uma espécie de hominídeo, ancestral do homem da provável “ex-Terra”. A geografia, a natureza, as condições atmosféricas eram semelhantes àquelas da pré-história terráquea e apresentava condições de vida à tripulação. A leitura do analisador de substâncias gasosas registrava um nível de 33% de oxigênio.
Através dos monitores magnetoradionolográficos o capitão observava as atividades da tripulação. Robôs, andróides, humanóides, humanos, cientistas, todos unidos, analisando, pesquisando, fazendo reparos, etc. Na sala de reuniões do Supremo Conselho Científico, a informática apresentava todos os dados e informações para que tão logo quanto possível eles pudessem decidir se aquele planeta seria mesmo o novo lar da tripulação ou se eles deveriam seguir em frente... para muito mais além do passado.